Classificar as posições políticas num espectro direita/esquerda não é apenas uma maneira redutora de ver as coisas. É uma forma manipuladora e parcial de as tratar. É uma tentativa de simplificação de um assunto complexo, mas que não é feito de forma neutra, que implica em si uma grande falta de honestidade intelectual.
Existem várias forças políticas diferentes, representadas ou não por partidos, que concordam mais ou menos com o regime em vigor. Entre essas forças políticas umas pretendem apenas as mudanças necessárias para manter esse regime, outros que pretendem reformá-lo, e outras que pretendem instaurar um completamente novo.
Com tantas implicações diferentes há quem tente explicar isto num espectro bidimensional: esquerda e direita. Uns são assim, os outros são assado. É simples e resulta porque as cabecinhas ficam todas contentes porque já perceberam alguma coisa. Mas não é assim. O objectivo desta divisão é favorecer os partidos do regime, ou então algumas das partes desse espectro.
Por exemplo, uma conhecida cantora pop-rock portuguesa afirmou há dias que "como rapariga do povo [que é] só podia ser de esquerda", e é neste tipo de maniqueísmo que muitas vezes se cai, para a esquerda tudo o que é direita é mau, e vice-versa. Simplifica as coisas, mas não nasce de nenhuma ideia estruturante e coerente. Se fosse assim era tão fácil!
Como é que as pessoas aceitam isto? Se formos perguntar a dez pessoas no café o que elas acham que é a diferença entre a esquerda e a direita, mais de metade responderá que a esquerda defende os pobres e a direita defende os ricos.
Por mais estúpida que seja esta ideia ela resulta, e, sendo assim, esquerda e direita mantêm o seu eleitorado ignorante e fiel. Votando por convicção, por fé, mas quantas vezes na ignorância...
Este é um maniqueísmo verdadeiramente infantil, próprio de um tipo de pensamento básico destinado a enganar as cabecinhas mais fraquinhas que não aguentam com explicações demoradas ou posts longos, que não tentam perceber e analisar a realidade circundante, guiando-se por estereótipos, umas vezes por ignorância, outras vezes por má fé.
Porque há pessoas que pensam que a política é um grande filme: há os bons e há os maus...