solidariedade de Estado
"A decisão do Governo de instituir a gratituidade dos livros escolares é uma péssima medida. Não apenas porque gera mais despesa mas também e sobretudo por outras razões. A primeira prende-se com a anunciada comissão que, de agora em diante, vai avaliar os livros escolares. Supõe-se o que esta estrutura vai implicar de pareceres positivos e negativos? Tráfico de influências? Recursos? Verbas? As editoras são livres de editar. O que devia preocupar o ministério era sim que os professores tivessem critério a escolher os manuais escolares e não criar uma comissão que determina o que pode ser ou não editado. A outra razão prende-se com esta filosofia da gratituidade. Convém dizer que os livros não são gratuitos. Os livros vão ser pagos por todos nós. O que se impõe é que se institucionalize a reutilização dos manuais. Um livro não pode ser algo pelo qual nem sequer damos dinheiro e que no fim do ano atiramos para o lixo. Por fim convém que se acabe com esta pedagogia do carenciado. Mal entram no jardim de infância as crianças dividem-se em carenciadas e não carenciadas. Esta estigmatização das crianças perpretada em nome da solidariedade é algo de profundamente perverso. Os escalões de rendimento são algo para ser tratado entre os cidadão e o Estado. Não para se andar de, folhinha na mão, de escola em centro de saúde, a provar que se deve pagar menos porque se é carenciado."
Helena Matos, Público (19.11.05)