quarta-feira, março 30

Elogios e Críticas

Quase tão vantajoso e motivador como um elogio de um amigo é uma crítica de um inimigo, ideológico, claro! Segundo o Abrangente:

"a direita "liberal" (com aspas e tudo !), onde falta a ideologia, o pensamento social, a ética política, mas onde se exagera com ideias em torno do "liberalismo" e do "mercado" -- como se tudo fosse robotizado (corrigido). Na blogosfera predominam os liberais blasfemos, a biblioteca de Babel, o insólito insurgente, o ocidental acidental, e a destreza das dúvidas, etc. A direita liberal,individualista, sem ideologia nem ética política, está aí, cada vez em maior número"

Ora bem, aqui está mais um bom exemplo da superioridade moral da esquerda. Eles querem ajudar os pobrezinhos e nós os ricos. Eles querem que política seja dar aos que não podem ou não querem fazer nada, e a única solução que têm para isso é tirar aos que fazem.

Ora bem, isto não tem resposta, enquanto se considerarem moralmente superiores a nós, não vale a pena discutir. Eles têm que primeiro admitir que amboas queremos uma sociedade próspera e rica, mas que ideologicamente apresentamos diferentes soluções para isso. Mas se calhar para isso eles precisavam de admitir que temos uma ideologia. Assim, são apenas intolerantes...

Este Blogue Recomenda-se II...(editado)

Depois da tempestade blogosférica que nos assolou ontem, finalmente posso agradecer convenientemente ao Blasfémias e ao CAA, a menção elogiosa que nos dirigiu. É uma grande honra para um liberal ser reconhecido por este blogue com quem aprendemos a nos viciar neste mundo de ideias e amigos. Ser reconhecido pelo Blasfémias é atingir um patamar de honra para um liberal (semelhante ao que um anti-americano, anti-israelita, anti-globalização, pró-charro e pró-aborto sente ao ser referido pelo Barnabé, talvez).

Depois de ser reconhecido pelo Blasfémias, pelo Contra a Corrente e pelo Insurgente, pelo Range-o-Dente, anunciado pelo Vilacondense e de receber links e comentários do Galo Verde, Arte da Fuga, Rua da Judiaria, do Lobices e do Ávido e outros (que ainda não sei e agradeço que me informem, para quando eu tiver tempo actualizar os meus contactos) só falta mesmo um linkzito no Jaquinzinhos, outro grande baluarte do peixe livre, e um verdadeiro guru por estas bandas.

Adoro estas anedotas

Um Presidente de Câmara queria construir uma ponte e, para esse efeito, foi aberto um concurso público. Concorreram três empreiteiros: um Espanhol, um Americano e um Português:
Proposta do Espanhol: 3 milhões de euros.
- 1 milhão pela mão-de-obra;
- 1 milhão pelo material;
- 1 milhão para lucro.
Proposta do Americano: 6 milhões de euros:
- 2 milhões pela mão-de-obra;
- 2 milhões pelo material;
- 2 milhões para lucro, mas o serviço é de primeira.
Proposta do Português: 9 milhões de euros:
-"Nove milhões?", admirou-se o Presidente de Câmara. "É demais! Porquê tanto?"
Respondeu o empreiteiro Português:
"É simples":
- 3 milhões para mim;
- 3 milhões para si;
- 3 milhões para o Espanhol fazer a obra...

terça-feira, março 29

Leitura: Memória das Minhas Putas Tristes

O lançamento mediático do último livro de Gabriel Garcia Marquez (GGM) levou a que o livro fosse muito pretendido.
Um velho “sábio triste” narra as suas preocupações no dia em que faz noventa anos. Nesse dia resolve escrever as memórias que guarda do seu passado. Um século de vida gasto sozinho com muitas mulheres. Um velho que sempre pagou para ter sexo que descobre aos noventa anos o amor e o vive como um adolescente.
Mas não se pense que é apenas de memória que se faz este livro. Não encontramos nele um velho decrépito a recordar a juventude e a lamentar a velhice. É, como um título no Público muito bem dizia, uma glorificação da velhice. Se não nos dissesse ter noventa anos nunca o descobriríamos pois é um velho com muita agilidade e força de vontade, embora sinta, claro, o peso da idade e a proximidade da morte. O que acabo de dizer associado ao título pode levar a determinadas interpretações, que também tem, mas não é só disso que se trata. É um pequeno romance e, arrisco a dizer, uma pequena amostra do que é a escrita de GGM e a arte de narrar histórias incríveis sempre com pilares reais.

Há quem faça uma interpretação do livro mais negativa. Vejam como no que parece ser um programa de rádio no Brasil se contesta a personagem feminina por quem este “sábio triste” se apaixona. Há certos aspectos que temos que ter presentes quando lemos uma obra literária: um deles é que o escritor cria um texto e o leitor vai interpretar esse texto à sua maneira, de acordo com a sua cultura e a sua realidade. O que está escrito neste livro, para mim, não é de forma alguma um incitamento à prostituição e muito menos à pedofilia.

Gabriel Garcia Marquez, o homem, tem “defeitos” mas o escritor já provou que consegue fazer com que o leitor entre nos livros e viva aquelas histórias fantásticas. Agora só pedimos que continue a fazê-lo.

Só é pena que este livro seja tão pequeno. Depois de 10 anos à espera… sabe a pouco.

PEC = pacto dos primeiros ministros europeus a favor da preservação dos seus próprios cargos

Este ano, quando uma equipa festejar o título da Superliga, os jornalistas irão relembrar que os adeptos já mostraram lenços brancos ao seu treinador, a dada altura, mas que mesmo assim este foi campeão (caso não seja campeão o Braga ou o Boavista). Mas isto é no futebol, área que, não sendo conhecida pela seriedade, ainda tem alguma dignidade. A política um dia ainda há-de conseguir ser assim, é que lá os treinadores são logo despedidos antes de acabar a primeira volta. Em certas coisas o nosso país é superior à América do Sul, no futebol por exemplo. Noutras, como na política, somos iguais, ou piores. Demitir um governo a meio é uma coisa muito fácil, basta que ele tome algumas boas (necessárias) medidas, e que não governe visando manter a popularidade. Os bons líderes são reconhecidos sempre pela História, poucas vezes pelos seus pares. Espera-se portanto que Sócrates complete o seu mandato. Sobretudo depois da reunião em que todos os ministros europeus concordaram em que deviam tomar medidas que lhes facilitassem a manutenção no poder através de más medidas. A partir de agora gastar é bom, mas só se fores político.

sábado, março 26

Páscoa: Ontem e Hoje.

Este Blogue Recomenda-se...

Quase que me apetece dizer que estes são os posts da semana! Primeiro este no Contra a Corrente, depois este n’ O Insurgente. Quando vi fiquei boquiaberto! Dois dos blogues que venero recomendaram-me! Eles para mim são gurus sem rosto e agora dizem que eu valho alguma coisa. (E com que cara ficarei quando repararem que tudo o que digo é copiado deles?). Quando comecei a rascunhar disse a todos os meus amigos, mas como ambos têm pouco acesso à Internet o blogue foi votado ao abandono. O meu objectivo não era criar algo de novo ou original, para isso há muitos, demais, a Internet já tresanda a originalidade, o que queria era procurar o que é interessante na web (pela minha perspectiva) e deixá-lo acessível a quem me lesse, ou linkado ou mastigado por mim e apresentado em short version, pondo alguma ordem na Biblioteca de Babel que é a Internet (ver conto homónimo de Jorge Luís Borges). É que só acho importante escrever algo novo quando se conhece bem o velho (como diz o maradona, era preciso suspender novas publicações de ficção e de poesia por 99 anos). Agora a quem me visita eu quero ostentar estas duas referências bloguísticas como duas medalhas no meu peito. Eu quero que os meus leitores saibam que o MacGuffin e o AAA recomendam este blogue! Passará a ser a minha prova de qualidade.

quinta-feira, março 24

O Império Francês

Quando todos tomam como verdade a coisa mais ridícula do mundo, muitas coisas perfeitamente razoáveis passam à frente do nosso nariz e dizemos que são mentira.

Acusam os EUA de querer constituir um Império. E não reparam que a China vai anexando uns países de vez em quando e que se prepara para o fazer novamente. E depois há outros países que também que não aceitam o alinhamento com os Americanos só porque não querem aprecer na fotografia com eles, preferem aparecer numa bonita ficção que possa agradar às massas que exultam com a demagogia da extrema extrema esquerda em tudo o que mete política externa, terrorismo, ecologia e combate à pobreza, garantindo mais uns votos e mantendo as esperanças de poder encabeçar uma "outra via para o mundo", mesmo que as diferenças não beneficiem os outros em nada. A França faz tudo o que for possível para se promover, mas não tem uma alternativa viável a apresentar ao mundo, nada que substitua o liberalismo americano. O seu plano é trocar o inglês pelo francês e o que diz cultura anglo-americana por cultura francesa. Faz tudo para aparecer na fotografia certa. Até dar um abraço a Putin, quando a Rússia atravessa a maior crise democrática depois da queda do muro. E fá-lo nas costas de Bush, que dias antes tinha ido deixar alguns recados ao russo (num assomo de coragem de que a Europa há muito carece). É que os EUA criaram um modelo económico e social que produz riqueza e progresso, e um modelo político que é o mais livre que os homens alguma vez conheceram. Ajudaram a espalhar as suas ideias pelo mundo e todos ganhámos com isso (inclusive eles, claro). A França não está contente com o resultado, apesar de o mundo está melhor ela só se preocupa com o seu papel nisso tudo, apenas sonha voltar ao que já foi: uma potência com influência geo-estratégica e cultural. Não tem um modelo novo, quer ser grande porque sim. Não quer ser grande por substância, quer ser grande de facto. O modelo europeu, em parte criado por franceses fracassa todos os dias, e todos os dias se fazem e refazem novas estratégias para a Europa, quer seja o Pacto de Estabilidade e Crescimento, quer seja a anedótica Estratégia de Lisboa, que previa que a Europa fosse a economia mais competitiva do mundo em 2009. Para já achou-se melhor adiar esse objectivo por mais uma década. E depois logo se vê.

Os posts da semana

Este post no Semiramis desmancha bem o pretenciosismo arrogante dos intelectuais portugueses, que desprezam o grande público porque simplesmente vivem à custa do dinheiro do Estado.

Mais um post brilhante no Jaquinzinhos! Este ironiza sobre o suposto modelo nórdico que Socrates quer implantar no nosso país. Há três versões: o sueco, o norueguês e o finlandês. Para o Finlandês só precisamos de inventar duas Nokias (o nosso país tem o dobro da população), para o norueguês só precisamos de descobrir petróleo no nosso território e para o sueco só precisamos de criar cerca de 300 empresas com capacidade competitiva a nível mundial. É só escolher!

No Blasfémias este excelente resumo da ideologia que envolveu o caso Bombardier.

quarta-feira, março 23

Mercado Livre?

(Via Blasfémias)

Um post muito interessante no Barnabé sobre o mercado livre. Conclusão: os mercados livres não ajudam ninguém. São os proteccionismos que devemos defender, eles é que são o motor do nosso desenvolvimento. A partir de agora cada um produza para si próprio.

Este foi o comentário que deixei no Blasfémias sobre esses beneméritos de extrema esquerda, que vão salvar o mundo:

"O que podemos dizer dos barnabés? São pessoas puras que querem ajudar os pobrezinhos, dar-lhes sopa e pão para comerem, enquanto que nós liberais queremos obrigar os pobres a trabalhar e a comer hamburgers e coca-cola para assim ganharem doenças para depois lhe vendermos as vacinas das empresas que nós encapotadamente defendemos..."

sábado, março 19

A Água

Esta foi a semana em que se discutiu o problema da água. Jorge Sampaio lá deve ter feito mais um apelo à “importância decisiva deste recurso”. E todos iremos continuar a julgar que a água é um produto fundamental, acima de qualquer outro “mero produto de mercado”. Ao contrário dos outros produtos que se vendem e têm um preço, a água continua a ter uma importância metafísica para os portugueses, que impedem a todo o custo que a água entre no mercado mundano, onde todos chafurdam e só procuram o infame lucro. Sendo assim o Estado continuará a impedir a privatização do sector da água, porque é um produto essencial, fundamental, providencial, quase mesmo sobrenatural (ao contrário do gás, da electricidade, da alimentação, dos livros, da educação, da pílula e do vinho). Assim o Estado impedirá que a Água caia nas garras dessas empresas egoístas e desumanas. Assim a Água continuará controlada por empresas públicas subsidiadas. Continuaremos a pagar impostos para que estas empresas vendam a água mais barata do que a pressão da oferta e da procura exigiria. Isto é: a água continuará a ser subsidiada e o seu consumo estimulado. Continuar-se-á a gastar água a mais, porque esta é mais barata do que devia ser. Continuar-se-á a estimular o consumo por um lado e a apelar aos cidadãos para a poupar por outro.

(Mas vivemos num país que tem como líder político mais popular Jorge Sampaio, e quando assim é nada me espanta. Um país onde os políticos apelam à boa consciência das pessoas para resolver os problemas, porque a palavra autoridade é conotada com o fascismo, enfim…)

Como se atreve Jorge Sampaio a dizer aos cidadãos para poupar água? O consumo doméstico da água em Portugal representa 8% do consumo total! As empresas gastam 5%, e a Agricultura, que por acaso é quase 100% subsidiada, gasta os restantes 87%!

Isto é: o Estado paga, com o nosso dinheirinho, aos outros para a gastarem! Ora ganhe vergonha senhor Jorge Sampaio! Gaste você menos, fale verdade! É altura de dar à Água a importância que ela tem, e o preço que ela tem. Ou andaremos todos nós a contribuir para o consumo de um bem precioso.

quinta-feira, março 17

Serviço Público de Televisão

Pagamos 20 euros na factura da electricidade de contribuição áudio-visual. E para quê? Para ver um programa da manhã que concorre em mediocridade com programas similares de canais privados? E um programa da tarde que repete a acção do da manhã com a agravante de os apresentadores serem insuportáveis. No entanto, é importante ter um programa de serviço público que leve Portugal para os portugueses que estão no estrangeiro, um programa que leve Portugal e os próprios apresentadores a essas terras onde os nossos emigrantes param. É importante que eles recordem Portugal e matem as saudades sempre com o mais medíocre.
Mas o que oferece a televisão aos portugueses residentes em Portugal? Serviço público? Ou concorrência com os canais privados? A RTP1 não é mais do que um canal programado para ter audiência ao nível dos privados generalistas. A 2: é precisamente o contrário, oferecendo excelentes séries, documentários interessantes e, é de salientar, programação infantil durante a semana. O bom dos dois canais podia muito bem ser fundido num só canal com menos custos. Claro que essa fusão não é aceite porque, dizem, dar-se-ia primazia aos conteúdos da RTP1, à mediocridade que, segundo dizem, “é o que o povo quer”.
Ora, que serviço público quando para ter televisão de qualidade é preciso pagar a um servidor de televisão por cabo? Então porque pagamos, nós, uma contribuição áudio-visual? Pagamos porque, inteligentemente, ela foi colocada na factura da EDP. Tenhamos ou não televisão, paguemos ou não para ter televisão a sério, temos todos, os que temos electricidade, que pagar a contribuição áudio-visual, como se fosse uma esmola (obrigatória) que todos damos para termos um serviço público de televisão que assegure a qualidade televisiva.
Contudo, a necessidade desta contribuição pode compreender-se depois de se ver os custos do serviço?...

domingo, março 13

A História que nos escondem

Foi preciso ver dois ou três documentários, reportagens e ler alguns blogues para finalmente perceber o que se passou em Portugal depois do 25 de Abril. O ano passado um colega meu dizia-me que o 25 de Abril foi uma fantochada. Que Portugal só se tornou um país livre depois do 25 de Novembro de 1975. Na altura achei que ele era maluco. Agora acho que eu era ignorante. Há muito tempo que queria compreender o que se tinha passado. Agora quero saber porque é tão difícil chegar a essa verdade, a esses factos.

sábado, março 12

Os posts da semana

Eis os meus posts favoritos desta semana:

Este do Jaquinzinhos, que demonstra o eterno erro da esquerda: subir impostos e gastar mais. Onde o discurso demagógico encontra sempre um bode expiatório: os ricos. Uma lição sobre a inveja.

No Contra a Corrente, fala-se de uma entrevista à Sic Notícias, que também vi, em que um jovem sobrevivente do 11 de Março diz que perdoa aos terroristas mas que não perdoa Aznar.

No Rua da Judiaria, mostra como a desinformação pode chegar ao ponto de chamar de manifestação política a uma brincadeira com almofadas.

No Insurgente, fala-se da jornalista italiana estupidamente anti-americana que dizia que os iraquianos nunca lhe fariam mal, que depois foi raptada, que pediu ajuda desesperadamente em Inglês para que a salavassem e que depois de o governo dela lhe ter pago o resgate veio dizer que ninguém lhe fez mal, que a culpa foi dos americanos que a queriam matar.

sexta-feira, março 11

Million Dollar Baby

Quando vi o Million Dollar Baby, na semana passada, fiquei abismado com a qualidade do filme. Simplesmente inesquecível. Fiquei a pensar há quanto tempo não via um filme tão bom. Creio que foi o Lost in Translation, e antes desse talvez o Habla con Ella. Estes três forma dos que entraram directamente para a categoria de Os Meus Filmes.

Sobre o Modelo Escandinavo

Sobre o modelo escandinavo, que anda na boca de toda a gente e serve de resposta para tudo, e que não explica coisa nenhuma, deixo a minha defesa a cargo de um dos melhores blogues nacionais: o Contra a Corrente. É só clicar no excerto que aqui publico:

"O modelo escandinavo de Estado Providência não foi a causa, mas sim a consequência. Não foi pela adopção de um putativo «modelo» de solidariedade e protecção social que aqueles países se tornaram ricos. Por serem ricos ou potencialmente ricos é que puderam abraçar aqueles instrumentos de apoio social. Dito de outra forma: aplicar o modelo escandinavo a Portugal - instrumentalizando, nesse sentido, a política fiscal - seria tão desastroso como começar a construir uma casa pelo telhado"

domingo, março 6

Já cá canta!

O preconceito americano III

"As eleições do Iraque foram um sucesso que ninguém previu, e que está a ter um efeito de dominó democratizante em todos os países da área no que tem que ser considerado um sucesso de Bush, apesar de tudo..."

jornalista politicamente correcta, no programa Diga Lá Excelência(2:), 6/3/05

U2?

"Não deixa de ser fascinante matéria de estudo comparar o vigor e a tenacidade posta na compra dos bilhetes dos U2 pela mesma geração de jovens cujos professores dizem que eles não lêem porque os livros são caros. Que, pelo menos até ao passado ano lectivo, tinha de abandonar as faculdades porque não podiam pagar as propinas. E cujos corpos e almas segundo nos andam a garantir há anos psicólogos e pedagogos ficariam profundamente traumatizados caso tenham de se esforçar pelo que quer que seja. Nem sei o que seria se tivessem de dormir ao relento a noite mais fria do ano para obterem, por exemplo, uma bolsa de estudo. Felizmente que foi para os U2. Assim ninguém se traumatizou."

Helena Matos, in Público 5/3/05

sábado, março 5

O Académico de Viseu

O Viriatus tem um blogue onde fala sobre Viseu e que costumo ler. Saudades da minha terra que os blogues colmatam melhor que a imprensa local. Como o blogue não me permitiu comentar deixo aqui escrito o meu testemunho pessoal sobre a relevância pessoal do Académico de Viseu que o blogue me relembrou.


O Viriatus foi para Viseu e começou por se ambientar à comunidade local devido ao clube de futebol. Eu fiz o caminho inverso. Fui de Viseu morar para Coimbra (Almalaguês) há já 16 anos, mas o Académico de Viseu (o seu nome popular) foi a instituição que mais me prendeu à cidade, mais até que a Feira de S. Mateus. Muitos anos depois de ter saído de Viseu continuei a sentir-me de mais de Viseu do que de Coimbra, e porquÊ? Sobretudo porque sempre que o meu pai podia me levava a ver os jogos fora do Académico. É que na altura jogava sempre para ganhar e era sempre candidato à subida. Essas notícias deixam-me muito triste.

Pirataria

A pirataria é um problema sério. Pode levar à falência de empresas que apostavam em produzir produtos que nos são extremamente úteis. Mas a pirataria é também a prova de que uma sociedade para ser justa precisa de uma economia de mercado em que as empresas possam concorrer livremente e em que o Estado não penalize os seus produtos com impostos elevados. Por causa de impostos elevados e graças ao monopólio contrário às regras de mercado livre de algumas editoras e distribuidoras nacionais a pirataria em Portugal tem crescido assustadoramente. Ninguém está inocente, mas pelo menos devemos incentivar os produtos de que mais gostamos e precisamos comprando-os. Eu saco muita coisa da net, mas vou ao cinema para ver os bons filmes (os do Clint por exemplo), compro todos os CDs dos Madredeus e compro os meus jogos de vídeo favoritos. Sei que muita gente não o faz porque os preços são estupidamente altos e nem toda a gente tem possibilidades, não posso censurar ninguém.

Esses monopólios estúpidos de certas distribuidoras e editoras é que deviam pôr os olhos no Japão. No Japão o mercado funciona. As pessoas compram os bens a preços justos, porque há concorrência entre produtos. Lá praticamente ninguém liga à pirataria, ou pelo menos recorre-se a ela em muito menor grau.

Obrigado a todos

Desde que se soube que três dos Bombeiros Sapadores que morreram eram de Almalaguês que o telefone de minha casa não parou, e imagino que o cenário tenha sido igual em todas os lares desta terra (que na TV disseram que era vila). Recebi ainda sms no telemóvel, e mensagens de apoio de colegas e amigos, incluindo uma do Marco Ferreira que é de Mortágua, o sítio onde a tragédia se deu. Em nome do meu irmão agradeço a todos. Nós (o povo de Almalaguês) perdemos três amigos, três bons amigos, e vimos outros (os seus familiares) a entrarem num profundo sofrimento. Eles (o Corpo de Bombeiros Sapadores) perderam não só amigos e colegas como homens experientes e competentes, que dariam a vida pelos colegas e que já não o poderão fazer.

quarta-feira, março 2

CBS Coimbra

a melhor definição de um bombeiro foi-me dita pelo meu irmão há uns tempos e nunca mais a esqueci:

"de onde os outros fogem nós corremos para lá"

para mim chega isto.

O Funeral de Almalaguês

Na segunda-feira 5 homens saíram de Coimbra para arriscar a vida pela causa pública. Como no caso dos super-heróis isso era a rotina deles, e tal como os super-heróis, também eles fazem do anonimato uma questão de honra. Mas estes não conseguiram manter-se incógnitos. Desde Segunda-feira que o país já sabe o seu nome, repetido por todas as rádios, jornais e televisões. Três deles já foram enterrados e um deles deve estar a ser enterrado por estas horas. Não foram eles que quiseram, mas é assim a vida.

Bem sei que os super-heróis não existem. Como toda a ficção serve para entreter e dar exemplos. É que os bons exemplos que andam pelo mundo passam sempre despercebidos, as pessoas preferem a ficção, os artistas, as vedetas e o mundo do espectáculo e do faz de conta. Mas na vida real andam por aí muitos exemplos que mereciam ser devidamente valoriazados.

Em Almalaguês nós damos o devido valor a estes homens, e quando de dá uma tragédia sabemos dizer presente. O sentimento que nos une hoje é muito forte. É que metade da corporação de Bombeiros da cidade de Coimbra é da nossa "pequena" freguesia. Todos temos lá familiares e todos sabemos que aconteceu aos outros podia muito bem ter acontecido connosco. Agora quando nos olhamos uns aos outro nos olhos nem precisamos de dizer nada, sabemos exactamente o que o outro sente e sabemos que ele sabe que sentimos o mesmo.

Mas ninguém pode dizer o que a família sente. Isto está muito para lá do nosso entendimento. Já ficamos satisfeitos em que a família saiba que todos nós nos orgulhamos deles e que também nós vamos sentir muito a falta deles. É que eram eles que ajudavam a tomar conta dos nossos irmãos, primos, tios, sobrinhos, filhos, etc. Porque eles são mais que uma equipa, eles são uma família. Quando se perde um bombeiro, que morreu no serviço normal de cada dia que consiste em arriscar a vida dele pela vida dos outros, chamá-lo de herói é reconhecer a evidência de que a vida da comunidade depende do trabalho deles. Almalaguês sabe isso e quando perde um deles a falta é sentida por todos.

Agora só queremos voltar ao nosso anonimato, apesar de sabermos que a grande cidade que está ao nosso lado depende de quem trabalha nesta pequena aldeia não precisamos que toda a gente saiba. É assim a vida.