A Água
Esta foi a semana em que se discutiu o problema da água. Jorge Sampaio lá deve ter feito mais um apelo à “importância decisiva deste recurso”. E todos iremos continuar a julgar que a água é um produto fundamental, acima de qualquer outro “mero produto de mercado”. Ao contrário dos outros produtos que se vendem e têm um preço, a água continua a ter uma importância metafísica para os portugueses, que impedem a todo o custo que a água entre no mercado mundano, onde todos chafurdam e só procuram o infame lucro. Sendo assim o Estado continuará a impedir a privatização do sector da água, porque é um produto essencial, fundamental, providencial, quase mesmo sobrenatural (ao contrário do gás, da electricidade, da alimentação, dos livros, da educação, da pílula e do vinho). Assim o Estado impedirá que a Água caia nas garras dessas empresas egoístas e desumanas. Assim a Água continuará controlada por empresas públicas subsidiadas. Continuaremos a pagar impostos para que estas empresas vendam a água mais barata do que a pressão da oferta e da procura exigiria. Isto é: a água continuará a ser subsidiada e o seu consumo estimulado. Continuar-se-á a gastar água a mais, porque esta é mais barata do que devia ser. Continuar-se-á a estimular o consumo por um lado e a apelar aos cidadãos para a poupar por outro.
(Mas vivemos num país que tem como líder político mais popular Jorge Sampaio, e quando assim é nada me espanta. Um país onde os políticos apelam à boa consciência das pessoas para resolver os problemas, porque a palavra autoridade é conotada com o fascismo, enfim…)
Como se atreve Jorge Sampaio a dizer aos cidadãos para poupar água? O consumo doméstico da água em Portugal representa 8% do consumo total! As empresas gastam 5%, e a Agricultura, que por acaso é quase 100% subsidiada, gasta os restantes 87%!
Isto é: o Estado paga, com o nosso dinheirinho, aos outros para a gastarem! Ora ganhe vergonha senhor Jorge Sampaio! Gaste você menos, fale verdade! É altura de dar à Água a importância que ela tem, e o preço que ela tem. Ou andaremos todos nós a contribuir para o consumo de um bem precioso.