quarta-feira, março 2

O Funeral de Almalaguês

Na segunda-feira 5 homens saíram de Coimbra para arriscar a vida pela causa pública. Como no caso dos super-heróis isso era a rotina deles, e tal como os super-heróis, também eles fazem do anonimato uma questão de honra. Mas estes não conseguiram manter-se incógnitos. Desde Segunda-feira que o país já sabe o seu nome, repetido por todas as rádios, jornais e televisões. Três deles já foram enterrados e um deles deve estar a ser enterrado por estas horas. Não foram eles que quiseram, mas é assim a vida.

Bem sei que os super-heróis não existem. Como toda a ficção serve para entreter e dar exemplos. É que os bons exemplos que andam pelo mundo passam sempre despercebidos, as pessoas preferem a ficção, os artistas, as vedetas e o mundo do espectáculo e do faz de conta. Mas na vida real andam por aí muitos exemplos que mereciam ser devidamente valoriazados.

Em Almalaguês nós damos o devido valor a estes homens, e quando de dá uma tragédia sabemos dizer presente. O sentimento que nos une hoje é muito forte. É que metade da corporação de Bombeiros da cidade de Coimbra é da nossa "pequena" freguesia. Todos temos lá familiares e todos sabemos que aconteceu aos outros podia muito bem ter acontecido connosco. Agora quando nos olhamos uns aos outro nos olhos nem precisamos de dizer nada, sabemos exactamente o que o outro sente e sabemos que ele sabe que sentimos o mesmo.

Mas ninguém pode dizer o que a família sente. Isto está muito para lá do nosso entendimento. Já ficamos satisfeitos em que a família saiba que todos nós nos orgulhamos deles e que também nós vamos sentir muito a falta deles. É que eram eles que ajudavam a tomar conta dos nossos irmãos, primos, tios, sobrinhos, filhos, etc. Porque eles são mais que uma equipa, eles são uma família. Quando se perde um bombeiro, que morreu no serviço normal de cada dia que consiste em arriscar a vida dele pela vida dos outros, chamá-lo de herói é reconhecer a evidência de que a vida da comunidade depende do trabalho deles. Almalaguês sabe isso e quando perde um deles a falta é sentida por todos.

Agora só queremos voltar ao nosso anonimato, apesar de sabermos que a grande cidade que está ao nosso lado depende de quem trabalha nesta pequena aldeia não precisamos que toda a gente saiba. É assim a vida.