terça-feira, março 29

Leitura: Memória das Minhas Putas Tristes

O lançamento mediático do último livro de Gabriel Garcia Marquez (GGM) levou a que o livro fosse muito pretendido.
Um velho “sábio triste” narra as suas preocupações no dia em que faz noventa anos. Nesse dia resolve escrever as memórias que guarda do seu passado. Um século de vida gasto sozinho com muitas mulheres. Um velho que sempre pagou para ter sexo que descobre aos noventa anos o amor e o vive como um adolescente.
Mas não se pense que é apenas de memória que se faz este livro. Não encontramos nele um velho decrépito a recordar a juventude e a lamentar a velhice. É, como um título no Público muito bem dizia, uma glorificação da velhice. Se não nos dissesse ter noventa anos nunca o descobriríamos pois é um velho com muita agilidade e força de vontade, embora sinta, claro, o peso da idade e a proximidade da morte. O que acabo de dizer associado ao título pode levar a determinadas interpretações, que também tem, mas não é só disso que se trata. É um pequeno romance e, arrisco a dizer, uma pequena amostra do que é a escrita de GGM e a arte de narrar histórias incríveis sempre com pilares reais.

Há quem faça uma interpretação do livro mais negativa. Vejam como no que parece ser um programa de rádio no Brasil se contesta a personagem feminina por quem este “sábio triste” se apaixona. Há certos aspectos que temos que ter presentes quando lemos uma obra literária: um deles é que o escritor cria um texto e o leitor vai interpretar esse texto à sua maneira, de acordo com a sua cultura e a sua realidade. O que está escrito neste livro, para mim, não é de forma alguma um incitamento à prostituição e muito menos à pedofilia.

Gabriel Garcia Marquez, o homem, tem “defeitos” mas o escritor já provou que consegue fazer com que o leitor entre nos livros e viva aquelas histórias fantásticas. Agora só pedimos que continue a fazê-lo.

Só é pena que este livro seja tão pequeno. Depois de 10 anos à espera… sabe a pouco.