quinta-feira, dezembro 15

Professores Talk 2

Quando se questionam os privilégios dos professores chovem logo mensagens de jovens professores que suam a estopinha por todo o país. Eu estou nessa situação e sei o que isso é. Mas sou um professor que não deixa que isso o impeça de ler jornais e estar atento à realidade. E a realidade passa por estas duas realidades objectivas concretas:

- o ensino português é em termos relativos o que sai mais caro ao Estado

- a qualidade do ensino português é má relativamente a outros tipos de ensino europeu

Ora, há professores que não têm tempo para pensar nisso, mas eu tenho. Eu sei que há professores que não têm tempo para formar um discurso coerente para defender as suas posições e se defendem com o discurso sindicalista, numa lógica corporativa estafada, mau eu tenho. Estou com horário incompleto, já estão a ver. Muito incompleto, e muito longe, paciência.

Como esses colegas não têm tempo para pensar nisso eu faço-o e vou explicar o meu ponto de vista, é simples e rápido: se há tantas dificuldades porque é que tantos querem ingressar nessa carreira? É simples, porque depois de se passar por todos esses sacrifícios e provações a recompensa é muito grande:

Um professor no escalão 10 ganha cerca de 2500 euros por mês! Trabalha 12 horas por semana, o que com as reduções de horários pode dar 3 ou 4 aulas de uma hora por semana (nas turmas mais fáceis que eles escolheram)! Tem direito a faltar quando quer, até ao equivalente de um dia por mês! Tem o emprego estável até ao fim da sua vida! E ninguém lhe pode tirar estes prívilégios porque a lei não contempla qualquer avaliação do seu desempenho!

E poderão perguntar, mas isso é só os que estão no escalão 10. É verdade. Mas todos lá chegam, mais tarde ou mais cedo. Não há qualquer tipo de selecção, é apenas uma questão de tempo!

Nada mal, pois não? Mas isso leva-me à parte inicial, e às duas verdades objectivas que comecei por enunciar. Se se gasta tanto com o ensino e se ele é tão mau, o que fazer? Ora caros colegas, pensem um pouco. Não é contra aqueles que se fartam de trabalhar, com horários de 22 horas, com as turmas mais difíceis, com mais direcções de turma, mais longe de casa, com horários mais baixos, que falo. Falo dos outros... É tão simples como isto, para haver tanto para dar a esses não é possível haver o suficiente para nós. Os recursos não são infinitos.