sexta-feira, dezembro 23

Pró-Globalização

Ricardo Reis no Diário Económico:

Porque é então que pessoas de diferentes países que comunicam pela
Internet, partilham referências culturais, usam os seus cartões de crédito para
viajar, e adoram diversidade étnica na comida, se decidem encontrar em Hong Kong
para protestar contra a globalização? Alguns deles são simplesmente desordeiros
à procura de um pretexto para desacatos, em nada diferentes dos ‘hooligans’.
Outros são idealistas que, ou anseiam por um retorno a uma visão artificial do
passado sem indústrias mas também sem a mortalidade infantil ou a baixa
esperança de vida, ou sonham com um futuro risonho onde tudo é permitido mas
nenhumas escolhas ou sacrifícios são exigidos.

Mais ameaçadores contudo são os manifestantes que têm por detrás grupos de
interesse. Em todos os países, em qualquer momento, existem habitantes com uma
posição estabelecida na sociedade e no mercado. Neste grupo incluem-se os
capitalistas que controlam as empresas, os políticos e burocratas no topo do
aparelho de Estado, ou mesmo os agricultores que fornecem os alimentos. A sua
posição está permanentemente ameaçada, por novas empresas que melhor satisfaçam
as pessoas, por invenções que tornem as suas competências obsoletas, ou por
outros que façam melhor e mais barato. A globalização é a maior ameaça porque
multiplica as fontes de concorrência. Numa sociedade de mercado que funcione
bem, a resposta destes grupos instalados seria esforçarem-se, trabalharem e
inovarem, antes que os outros o façam. Uma opção frequentemente mais fácil é
capturar o poder político e usá-lo para proteger os seus interesses. A
exploração do nacionalismo e do medo do que vem de fora são algumas das armas
poderosas que usam. É na capacidade de combater estes grupos que se joga todos
os dias o futuro de uma sociedade próspera, livre, e global.