Programas de conversação
Todos os dias recebo mails contendo convites de amigos para participar num novo programa de conversação. Eu apago todos porque já tenho três maneiras de falar com os meus amigos a toda a hora, e só não os utiliza quem não quer: o telemóvel, o e-mail e o messenger. Penso que estes três instrumentos cobrem todas as lacunas que a não presença corporal do outro provoca. Às vezes amoleço e cedo à insistência de tanto mail que recebo e lá entro nos sites e inicio o processo de inscrição. Começo a preencher os dados, na esperança de não me voltar a chatear com isso. E depois acabo por descobrir que tenho que escolher um nome diferente porque alguém já escolheu o meu nome. Isso chateia-me imenso. Eu não quero ter outro nome. Eu quero este, porque já assim me confundo, agora imaginem com mais. E não sei qual é o problema de ter dois nomes iguais se tivermos outros dados pessoais que nos distingam. Ridículo. Em outros programas obrigam-nos a preencher todos os campos antes de aceitar a inscrição. Enjoativo! E depois chegamos ao cúmulo, como me aconteceu no site da SMS.AC em que temos que escolher a nossa cidade, e dá-nos cinco hipóteses (em Portugal): Oporto, Lisbon, Setúbal, Amadora e Lisboa (capital)... E como eu não moro em nenhuma destas e não me deixava passar à frente chateei-me a sério, e desisti.
É triste é que os mails que recebo não são enviados pela pessoa cujo nome aparece no mail. São enviados pelas máquinas da empresa a todos os contactos que essa pessoa possuía. Isso deixa-me triste por várias razões. Porque eu não dei autorização a essa pessoa para divulgar o meu nome a ninguém, muito menos uma empresa que não está minimamente preocupada comigo, apenas com o seu número de clientes e com o seu lucro (que é legítimo mas que tem que respeitar os meus direitos). Porque essa pessoa não se dá ao trabalho de me mandar mails mas deixa máquinas fazê-lo por si. Porque a maioria dos e-mails que recebo ou são de máquinas ou apenas reenviados, sem acrescentar um único olá, o que os torna igualmente impessoais, quando não são também repetitivos e chatos.
Um mail demora 20 segundos a fazer e mandar se se pretende apenas perguntar se está tudo bem. Pelo messenger ainda é mais rápido. Com todas as capacidades que temos hoje em dia continuamos a ser cada vez mais impessoais. Porque queremos. Ainda há pouco tempo me expliquei isto a um amigo, de quem tinha recebido um mail deste tipo e que não me dizia nada desde Agosto do ano passado (nunca mais me repondeu). E os blogues podem ser uma arma poderosíssima para combater isso (ou não), juntamente com mails, telefones ou messenger... quando a pessoa não está connosco, claro. A tecnologia ajuda-nos mas não forma a personalidade de uma pessoa. Nisso cada um responde por si.