a verdade das autárquicas
Os resultados eleitorais apareceram e os comentários começaram a surgir: políticos mais ou menos interessados ou comprometidos começaram a tentar explicar porque é que os candidatos "bandidos", aqueles que desertaram dos partidos, ganharam. E não só porque ganharam mas porque ganharam com uma vantagem a roçar o insultuoso. Sobre isto apenas umas notas:
1- Esses comentadores (políticos todos eles) esperavam e pediam ao povo que salvassem a democracia pelo voto: isto é, os "candidatos" eram "maus" e o sistema nada podia fazer para controlar os candidatos, seriam os eleitores que salvariam o sistema. Isso não aconteceu e agora todos se lamentam pelos candidatos bandidos que ganharam com o voto dos eleitores.
2- Agora os comentadores dividem-se entre aqueles que acham que pelo facto de terem elegido os candidatos bandidos agora temos os eleitores bandidos e os que tentam branquear a verdade factual pelo sufrágio popular: como se por se ter a maioria dos votos um candidato se tornasse automaticamente inocente.
3- O que os comentadores deviam saber que a democracia não é um sistema que se possa auto-expurgar dos seus males , depende dos tribunais para isso. Isto é: não é por ser democrático que se é moral, é preciso uma entidade que faça cumprir a lei, que investigue os crimes e que aplique as penas.
4- Em Portugal isso raramente acontece: as polícias não investigam devidamente, os tribunais não conseguem provar os (poucos) crimes que são descobertos, a lei eleitoral é omissa e permissiva com os candidatos na alçada da justiça (ao contrário dos outros países), as penas e as leis para os crimes em geral são demasiado leves no nosso país. É aqui que está o verdadeiro problema.
5- Um liberal não confia nunca na bondade do próximo para o bom funcionamento do sistema. A natureza humana, e o funcionamento das suas sociedades, não se compadece com idealismos ou utopias ou apenas "wishfull thinking". É preciso agir e poder para aplicar a razão, ou a justiça. Sem isso nada feito.
6- As lamúrias que agora alguns expressam pelo sistema é tão conivente com a corrupção como a tentativa do seu branqueamento. Estas lamúrias são afinal a opinião expressa de quem está comprometido com um sistema que funciona mal. E o principal sintoma de que o actual sistema (democrático, judicial e organizativo) não funciona bem é o facto de o tratamento dado pelos partidos aos candidatos-arguidos com acções judiciais em curso não serem iguais. Por exemplo: ninguém falou na comunicação social que a única autarca do Bloco de Esquerda também é arguida de um processo. Não! E com a total conivência da comunicação social que só tratou como "candidatos bandidos" aqueles que concorriam fora ou contra os seus partidos, o que mostra até que ponto os partidos políticos e a comunicação social são cúmplices do que vai mal neste país.
7- Bandidos por bandidos ainda prefiro aqueles que concorrem contra os partidos políticos. Será tão difícil encontrar comentadores independentes de partidos políticos?
8- Um liberal não tem que confiar na boa consciência de nenhum eleitor: um homem é um homem: a visão utópica e idealista da condição humana aparece normalmente conotada com as tentativas políticas de a transformar. A engenharia social pode ser marxista, troskista, socialista, mas Lberal é que não é.