A cassete liberal
Sic. Sexta-feira à noite. Debate sobre os textêis da China. O que fazer? Eles vêm aí!
Este homem defendeu o capitalismo selvagem. Segundo o ilustrado senhor da CGTP este homem debita a sua cassete do liberalismo selvagem. A expressão utilizada foi: "você vem para aqui repetir o que aprendeu na escola". Foi talvez a primeira vez que ouvi falar na cassete liberal. Só por isso, Sarsfield Cabral passou a partir de ontem a ser um dos meus deuses/mártires liberais. A uma simples ordem sua estarei disposto a colocar um cinto de bombas e fazer explodir um qualquer bastião de ideias esquerdistas.
Mais a sério, tenho que dizer que o programa deixou-me desesperado. Um senhor da CGTP a defender os trabalhadores das empresas, um representante dos industriais de têxteis, um representante da China e Sarsfield Cabral. Este último devia estar ali apenas porque sabe de economia, mas soube fazer melhor: adoptou a defesa do consumidor português, entidade completamente desprezada pelos dois primeiros senhores que enumerei. Os entrevistadores, Ricardo Costa e Nicolau Santos interromperam-no repetidamente, não aceitavam certas posições deste como válidas. A imparcialidade jornalística é completamente irrelevante por aquelas paragens. De cada vez que os senhores defendiam uma ideia protecionista acabavam a frase dizendo que não defendem o protecionismo. Definitivamente o Liberalismo é escarnecido por tudo e por todos que não compreeendem a dimensão progressista de uma tal teoria económica. O que por cá importa é quem está, quem tem, não o que se poderá fazer de melhor. O paternalismo como foi tratada a senhora representante dos interesses Chineses foi nojento. Sarsfield Cabral lembrou o que os têxteis portugueses sofreram como protecionismo europeuna década de 60 e como só a sua abolição anos mais tarde permitiu que os portugueses subissem o seu nível vida, e que na Europa o preço dos têxteis aumentaram quase 10% nos últimos anos, quando no resto do mundo baixou quase 30. Foi interrompido, contestado e até troçado.
Agora, segundo o novo discurso difundido pela comunicação social, e que várias vezes adopta como seu, o liberalismo é uma cassete. Impossível de pôr em prática, porque as suas consequências seriam desastrosas. Não sabem que a Economia Mundial só se desenvolve com medidas liberais, que por exemplo o António Vitorino defendeu no programa do Sérgio Figueiredo, ainda há pouco.
É que ainda há Socialistas inteligentes, embora sejam poucos, que sabem que a economia de mercado é a única via de progresso. Mas isso não pode valer só às vezes e só para alguns. É, tem que ser, um princípio a defender sempre por toda e qualquer pessoa decente, que se preocupa com o progresso e o bem estar das pessoas.