Conversas de café... com professores II
Ontem tive a tarde mais humilhante da minha vida: estive a discutir economia com colegas professores (e um deles meu bom amigo). Para eles economia é aquela coisa que estuda a maneira como se colocam as setinhas das cotações da bolsa à frente do nome das empresas capitalistas. Adam Smith, e isto foi-me dito com estas palavras, "é um tipo cujas ideias já não têm aplicação hoje em dia". Eu lembrei-me das "teorias" de Lavoisier e de Newton. Ainda refilei que não são teorias, que são leis. Mas, para eles, a Economia não é uma ciência. São teorias. Que não tem nada que ver com eles, por certo.
Passei uma tarde a tentar explicar que o Estado não se sustenta a ele próprio. Sustenta-se da economia privada (daquilo que não é Estado - ou admnistração Pública). Mas eles não entendem. Para eles o Estado vai buscar o dinheiro para lhes pagar aos impostos que eles pagam. E aos impostos dos produtos que eles consomem. São autosuficientes e desprezam qualquer actividade privada, apesar de muitos deles acumularem o seu ordenado de professor com um negócio próprio. Não se lembram que se só tivessem o negócio teriam de trabalhar mais para pagar a quem faz sempre o mesmo. E que um trabalhador do sector privado não tem direitos adquiridos. Nem que os seus direitos adquiridos são obtidos à custa dos outros.
Não. Eles acham que são autosuficentes. E desprezam coisas como empresas e capitalismo. desprezam os Estados Unidos da América porque lá não se respeita o ócio. O ócio é a dignidade da pessoa. Mas não se lembram que também existem pessoas em Portugal que não são funcionários públicos e que não têm direito ao ócio, nem a 3 meses de férias por ano, nem a 400 ou mais contos por mês. Não se lembram que eles não têm isso porque em Portugal há poucos empresários dispostos a pagar caro para que outros usufruam de direitos adquiridos. Porque não são capazes de enfrentar uma economia que compete todos os dias para que alguns fiquem parados no tempo.
O meus caros colegas não sabem o que é Economia. E desprezam um jovem, embora calvo, colega, de 26 anos que vem para ali falar "dessas teorias malucas". É que não lhes interessa. Só lhes interessa os direitos adquiridos que ganharam com as greves. Acham que o Estado se sustenta a ele próprio. Isto ouvi-o eu de um professor, por estas exactas palavras, e nunca me esquecerei disso. Eles são os verdadeiros filhos do Socialismo. Não do Partido Socialista, mas do verdadeiro Socialismo, enquanto doutrina política. Mas isto também não o sabem, porque para eles o Socialismo é a única lógica que conhecem e não compreendem outra. Nem todos votarão no Bloco de Esquerda, mas isso será por mero capricho conjuntural. Não votam no Partido Comunista porque devem ter ouvido dizer que não era "fashion". De vez em quando vêm o telejornal, lêem o Record ou Lux. Talvez mesmo a Focus. Mas têm opinião sobre tudo. E é preciso muito descaramento deste jovem calvo, bloguista e leitor da Atlântico, defensor da elevação da Economia a ciência, para contestar a experiência dos professores colegas. Não volta a acontecer, juro.