domingo, julho 3

Helena Matos

Há coisas que eu não perco por nada deste mundo. uma delas é a crónica semanal da Helena Matos no Público. É uma chatice não poder linkar a desta semana (conteúdo pago):

«Numa reportagem intitulada "Trocados pelo trabalho", publicada na passada semana pela revista Visão, lê-se que na linha SOS Criança tanto se recebem "chamadas de filhos de prostitutas como de administradores de empresas". Para em seguida se concluir "são estes últimos [os filhos de administradores de empresas] que merecem o alerta do economista do ISCTE, Rogério Roque Amaro". Ou seja "os filhos de administradores de empresas" e dos profissionais liberais serão os "novos excluídos sociais. Os que tiveram tudo, menos o tempo dos pais". Confesso que não percebo como é que numa linha de atendimento telefónico se consegue perceber se se está a falar com filhos de prostitutas ou de administradores de empresas. Mas também acho que não é para perceber. Voltemos contudo aos "novos excluídos sociais. Os que tiveram tudo, menos o tempo dos pais" (resta perceber como se mantêm coesas as famílias de emigrantes chineses cujos horários de trabalho fazem empalidecer, na Europa, as prostitutas e os administradores de empresas!). Não só ao longo da dita reportagem se percebe que estes pais dedicam tempo a contar histórias aos filhos, a levá-los a passear e a brincar com eles - dedicando a essas actividades certamente muito mais tempo que os pais e as mães das gerações anteriores - como se percebe que ao longo da dita reportagem se alinham uns quadros dando conta dos "sinais de alerta" e do "preço do abandono". »

Esta crónica, imperdível como é usual, mostra que apesar de todo o romantismo da reportagem da Visão, não se consegue vislumbrar no passado um período histórico em que os pais passassem mais tempo com os filhos do que o actual. A menos que a crónica seja apenas um apelo ao regresso das mães aos respectivos lares a fazer fé na ideologia tradicionalista.

Mostra ainda que os relatos de abusos e violência sobre menores ocorrem maioritariamente em famílias cujos pais não tinham ocupação. (A crónica tem ainda muito mais que não consigo relatar...)