terça-feira, agosto 23

notas avulsas sobre o fogo de ontem e outros

Ontem fui ver os fogos que lavravam em volta da minha aldeia, que ameaçavam povoações vizinhas. Subi a um monte e vi cinco (!) focos de incêndio, todos bastante violentos e dois deles ameaçando directamente casas. Quando me virei para a minha aldeia vi uma frente de fogo que a ameaçava pelo norte. Depois vi que o fogo já tinha chegado ao centro da aldeia, perto de minha casa. Corri para casa. Esta mudança era comlpetamente inesperada 20 minutos antes, fui completamente surpreendido. Eu não sabia verdadeiramente o que era um fogo antes de ontem. Tudo o que podia arder dentro da aldeia ardeu, mesmo o que não podia arder: uma casa e uma antiga serralharia (em frente da minha casa). Depois de ter visto o inferno continuo a pensar da mesma maneira.

1- as pessoas têm que ser responsáveis pelos seus pertences e propriedades; a minha casa está protegida, em volta dela há cimento, por isso não é fácil ser afectada por um incêndio que tenha uma origem externa: a única coisa que poderia ameaçar a minha casa era a casa de um vizinho arder e isso esteve quase a acontecer.

2- a casa do meu vizinho estava mal protegida; além de ser antiga, continha uma antiga serralharia, cheia de materiais inflamáveis; o perímetro da casa estava também cheia de matéria orgânica bastante inflamável; explicações há muitas: é habitada apenas por um idoso, que vive sozinho - mas isso constituiu um perigo relativo para a minha própria casa.

3- a teoria do fogo posto começa a ser cada vez mais ridícula: bastou um incêndio ter começado há 3 ou quatro dias no concelho de Coimbra, desde aí que se acendem uns atrás dos outros, que lançam fagulhas no ar que começam novos incêndios.

4- o problema é que os incêndios não se conseguem apagar, porque a floresta no concelho de Coimbra é contínua, quando começa numa ponta só para na outra, e nessas pontas é onde há casa, e é aí que se apagam os fogos.

5- pode haver mão criminosa, mas bastou atear um incêndio num sítio qualquer há cinco dias atrás, o resto dos incêndios foram originados por esse primeiro (que não sabemos se de facto teve mão criminosa).

6- havia duas maneiras de evitar isto: ou vigiar toda a floresta a toda a hora ou apagar imeditamente esse fogo original.

7- a primeira hipótese é impossível: a prevenção pode ser melhorada mas nunca será a ideal e nunca poderá evitar catástrofes em Portugal

8- a outra hipótese (apagar logo um fogo quando surge, antes que este provoque outros) não é fácil: não há meios suficientes de intervenção rápida (sobretudo meios aéreos), além disso a nossa floresta é inacessível porque é demasiado extensa e é contínua, prolonga-se ocupando todo o espaço tendo as povoações nos seus extremos (quando não no meio), sem acessos e corta-fogos.

9- por tudo isto só posso concluir que o problema é floresta a mais

10- a floresta provoca prejuízos incalculáveis, quem não percebe isto não percebe nada - não são os 35 euros que se ganham numa tonelada de pinheiro que pagam nada disto

11- esta floresta não é natural

12- os incêndios não são evitáveis, por uma ou por outra causa, eles acontecerão sempre, cou ou sem árvores, com mais ou menos mato, a questão está em evitar tragédias maiores.

13- não podendo evitar ignições podíamos e devíamos controlar o combustível

14- enquanto ninguém for responsável pelo que é seu acontecerão sempre acidentes, porque a culpa não é nossa.

15- sendo assim, a classe política de que todos se queixam é a ideal: é boa para quem despreza a responsabilidade individual, culpando sempre outrém pela nossa própria responsabilidade.

16- um fogo florestal não se combate: é impossível, é só esperar por ele nas casas - não será lógico então controlar as florestas?